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NESTÃ - A IDOLATRIA DAS BÊNÇÃOS DIVINAS


Nm 21.4-9; 2 Rs 18.4, 5.
INTRODUÇÃO
Enquanto jornadeava em torno do território de Moabe, os israelitas murmuravam contra Deus e contra Moisés: queixavam-se da falta de pão e água.
            Se estivéssemos no lugar daquele povo agiríamos diferente? Seríamos mais gratos e menos murmuradores? Seríamos menos imediatistas e mais confiantes no Senhor?
            Aquela infeliz atitude levou o Senhor a castigá-los com o flagelo das serpentes. Israel estava às portas de aprender uma grande lição.
            Quando o povo clamou por auxílio, logo o Senhor providenciou o remédio para afastar aquele grande mal: ordenou que moisés fizesse uma serpente de metal e a colocasse sobre uma haste. Todos os que olhassem para ela ficariam curados.
            Com que propósito Deus daria essa ordem a Moisés? Que lição haveria de ministrar-lhes?
            Na verdade, Deus queria ensinar ao povo a depender exclusivamente dEle, tanto no caso daquele livramento quanto como princípio geral.
            Porém, infelizmente, os israelitas não enxergaram por este prisma: a serpente que era um simbolo do Salvador futuro, tornou-se objeto ignóbil de culto e apostasia.
Estamos nas fronteiras de Edom, o povo de Israel sofreu com as mordidas mortíferas das serpentes abrasadoras, em castigo contra a rebeldia. Quando rogaram a Moisés que intercedesse por eles perante Deus, para que fossem salvos das serpentes, Deus ordenou a Moisés que fizesse uma figura de bronze, representando uma serpente, e a alçasse no alto de um poste, a fim de que qualquer pessoa mordida por uma serpente tivesse apenas de olhar para a serpente de bronze para não perecer. Por esse meio Deus concedeu livramento ao povo.
            Séculos mais tarde, ao expurgar os costumes e objetos idólatras, o rei Ezequias, de Judá, destruiu esta serpente de bronze porque o povo israelita a havia transformado num ídolo, queimando-lhe incenso.
“Não é difícil para o povo de Deus forjar ídolos das boas coisas que já deixaram de ser úteis”. A afirmação partiu de Warren W. Wiersbe ao discorrer sobre a atitude de Ezequias que, ungido rei, ordenou fossem destruídos todos os ídolos que haviam em Judá, inclusive Neustã.
      Era Neustã aquela serpente de bronze que Deus mandara forjar em pleno Sinai a fim de  que todos mordidos pelas víboras ardentes olhassem para ela, e fossem de imediato curados. Infelizmente, conforme veremos a seguir, o que no passado fora bênção, no futuro far-se-ia maldição e tropeço. O veneno de Neustã ainda pode ser fatal.

I.              A SERPENTE DE BRONZE – SÍMBOLO DE REDENÇÃO
Como Israel murmura-se contra Deus e  revoltava-se contra Moisés em consequência das agruras do deserto, o Senhor espalhou, por todo o arraial hebreu, serpentes abrasadoras que começaram a picar os israelitas.
            Já à beira da morte, recorreram a Moisés que, após interceder pelos murmuradores, recebeu de Jeová a seguinte instrução: “faze uma serpente ardente e põe-na sobre uma haste: e será que viverá todo mordido que olhar para ela” (Nm 21.8).
            O que aconteceu a seguir marcaria para sempre o relato dos grandes feitos de Deus: “E Moisés fez uma serpente de metal e pô-la sobre uma haste; e era que , mordendo alguma serpente a alguém, olhava para serpente de metal e ficava vivo” (Nm 21.9).
            Mas tarde, o Senhor Jesus tomaria o episódio como símbolo de sua morte vicária: “E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça mas tenha a vida eterna” (Jo 3.14-16).

II.            DE SÍMBOLO SAGRADO A OBJETO DE APOSTASIA
Os israelitas conservaram a serpente de bronze por mais de 700 anos. Nesse período, o símbolo fez-se ídolo, o ídolo tomou o lugar de Deus e acabou por induzir Israel à apostasia. A serpente, agora, era incensada como a deusa Neustã, cujo nome em hebraico significa ídolo de bronze.
Houve um homem, entretanto, que se dispôs a desafiar a tradição, e a restabelecer o culto de Jeová. Seria ele considerado o melhor rei de Judá de todos os tempos (2 Rs 18.5). Tão logo assumiu o trono “tirou os altos, e quebrou as estátuas, e deitou abaixo os bosques, e fez em pedaços a serpente de metal que Moisés fizera, porquanto até àquele dia os filhos de Israel lhe queimavam incenso e lhe chamavam Neustã” (2 Rs 18.4).
            As oposições a Ezequias não eram pequenas. A classe sacerdotal tinha a serpente como um objeto sagrado; os príncipes olhavam-na como relíquia de um glorioso passado; e o povo, em sua ignorância, devotava-lhe singular estima, pois nela todos viam uma divindade. Fosse Ezequias um mero homem do povo, e haveria de transformar a serpente num patrimônio da humanidade. Acontece, porém, que ele era um homem de Deus. E sabia muito bem que nada poderia estar acima do Deus de Abraão, Isaque e Jacó.
            Não estaremos nós a incensar alguma Neustã? Pode ser que , no passado, determinado objeto, conceito ou atitude, tenha-nos sido uma grande bênção. Agora, porém, se continuarmos a mirar em tais coisas, podemos correr o risco desviar-nos da palavra de Deus, que exige nos renovemos a cada manhã. Nenhum conceito pode estar acima da palavra de Deus. A Bíblia é soberana! Seus preceitos, suas leis e sua primazia estão acima de qualquer instituição, patrimônio, pessoa, títulos, cargos, influência, posses, fama, bens, dotes ou de qualquer outra coisa que nos seja predileta e talvez já transformada numa neustã em nossa vida.

III.           QUANDO O SAGRADO LEVA À PROFANAÇÃO
Os hebreus não tiveram problemas apenas com os deuses pagãos. Enfrentaram também sérias dificuldades com as bênçãos que lhes dispensava o Senhor. É que eles, como muitos de nós, tinham a perigosa tendência de colocar a bênção acima do Abençoador; a cura acima do Médico dos médicos; a prosperidade acima do Dono da prata e do ouro; e a vitória acima do triunfante Senhor dos Exércitos. Acontece, porém, que nada pode assumir o lugar de Deus em nossa vida ou na vida da Igreja.

1. Quando a vitória traz a derrota. O episódio é bastante significativo. Após derrotar os midianitas, resolveu Gideão fazer uma estola de ouro para comemorar a vitória. Mas veja o que aconteceu: “E fez Gideão disso um éfode e pô-lo na sua cidade, em Ofra; e todo o Israel se prostituiu ali após ele; e foi por tropeço a Gideão e à sua casa” (Jz 8.27).
            Sim, Israel foi derrotado em seu próprio triunfo. Por que fazer de nossos triunfos o símbolo de uma vitória que não é nossa, mas de Deus? Se vencemos o Maligno, vencemos-lo pelo sangue do Cordeiro, e não por nossos próprios méritos. Não fomos chamados para tropeçar em nossos êxitos e sucessos; convocou-nos o Senhor para andarmos de vitória em vitória (2 Co 2.14). Os triunfos passados não nos devem impedir as vitórias no presente e as glórias no porvir.

2. Quando a aliança traz a derrota. Israel não tinha uma clara percepção de seu status como povo de Deus. Pensavam eles que, pelo simples fato de terem Abraão por pai, era-lhes mais que suficiente para vencer todas as circunstâncias. Da aliança que o Senhor com eles estabelecera, faziam um amuleto. Haja vista que, em suas guerras, a Arca da Aliança estava sempre precedendo-lhes os exércitos. Mas um dia foi esta tomada pelos filisteus (1 Sm 5.1).
            Mais tarde, o Senhor anuncia o fim da Arca da Aliança (Jr 3.16). Israel haveria de compreender que não baste ser povo de Deus; é necessário andar como Deus o requer: “Fala a toda a congregação dos filhos de Israel e dize-lhes: Santos sereis, porque eu, o SENHOR,  vosso Deus, sou santo” (Lv 19.2).
            Não basta ter o título de cristãos; é imprescindível que o Cristo de Deus esteja em nosso coração e nele reine soberanamente. Não basta ser pentecostal; é urgente que estejamos cheios do Espirito Santo, e que a nossa vida seja consagrada a Deus e ao seu serviço, de conformidade com o seu soberano querer.

3. Quando um monumento traz a derrota. Se nos dias de Salomão, o Templo fora uma bênção para Israel, nos de Jeremias convertera-se aquela construção num motivo de tropeço para judá. Pois os judeus acreditavam que apesar de todos os seus gravíssimos pecados, o Senhor jamais destruiria Jerusalém, porque em Jerusalém estava o Santo Templo, e neste achava-se a Arca da Aliança. No entanto vem Jeremias e adverte-os: “Não vos fieis em palavras falsas, dizendo: Templo do SENHOR, templo do SENHOR, templo do SENHOR é este” (Jr 7.4). Infelizmente, foi o que aconteceu. Vieram os babilônios e deitaram por terra a Casa de Deus, e levaram os judeus cativos para Babilônia (Jr 25.12).
            Estejamos precavidos com os monumentos! Todas as vezes que o povo de Deus perde suas características proféticas, sacerdotais e reais, começa a esculpir monumentos de sua história e de seus triunfos pretéritos. O Senhor, porém, não nos chamou para erguer monumentos ao que éramos; requer ele que mantenhamos no cenáculo – o evangelho completo: Jesus Cristo salva, opera maravilhas e em breve haverá de nos arrebatar às eternas mansões.

CONCLUSÃO
Que Neustã lhe está causando tropeço? Uma cura? Lembre-se: mais importante que a cura do corpo é a revivificação da alma pelo Espirito Santo. Uma grande vitória? Não se esqueça: as vitórias passadas não nos podem atrapalhar os triunfos do presente. Uma Pretensão? Tenha sempre isto em mente: Não basta ser povo de Deus; temos de andar como Cristo andou. Um monumento à fé? Considere esta verdade: o movimento do Espirito Santo não pode ausentar-se de sua Igreja.
            Não faça da prosperidade um ídolo. Porque: “Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide, o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimentos; as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja vacas, todavia, eu me alegrarei no Senhor, exultarei no Deus da minha salvação” (Hc 3.17, 18).

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