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A CRUCIFICAÇÃO


A CRUCIFICAÇÃO


            A crucificação é uma forma de execução antiqüíssima. O stauros (palavra grega que significa cruz), originalmente era um poste de ponta, sobre o qual as vítimas eram lançadas, ou no qual os condenados eram dependurados e torturados. Desde os tempos antigos a cruz era usada na Pérsia e em Roma. Os judeus costumavam enforcar os criminosos, após a sua execução com o propósito de expô-los à maldição pública. (Dt 21. 22, 23). Ao tempo de Cristo, três tipos de cruzes eram geralmente usados – uma delas se assemelhava à nossa letra X (Chamada cruz de Santo André, devido à tradição que garante que ele foi crucificado numa desse formato); outra se assemelhava a uma letra T maiúscula (chamada cruz de Santo Antônio), e uma outra, ainda, na forma usual, t chamada de cruz latina. Não é totalmente certo qual a cruz usa na execução de Cristo, embora a maioria dos estudiosos acredite que a cruz de Cristo era do último desses três modelos.

            A crucificação tinha lugar fora dos muros da cidade. A vítima transportava a sua cruz até o local da execução. Eram perfuradas as mãos, provavelmente um pouco acima da palma, no metacarpo ou no pulso, que eram encravadas com pregos em cada um dos lados dos braços da cruz. primeiramente era encravada a mão direita, e depois a esquerda, enquanto a vitima ainda jazia sobre a cruz, deitada no chão. As autoridades diferem sobre a particularidade de que cada pé era encravado em separado, ou se ambos eram encravados juntos. É bem possível que ambos os métodos de encravar os pés fossem usados. Mui provavelmente a cruz era levantada do solo de modo que os pés da vítima ficassem a poucos palmos acima do chão.

            A morte geralmente se prolongava, raramente exigindo menos de nove dias. A dor era intensa, e as artérias da cabeça e da região do estômago ficavam sobrecarregadas de sangue. Se o castigo de açoites tivesse sido suficientemente severo, Poderia reduzir o tempo de sofrimentos na cruz, portanto alguns condenados expiravam durante esse castigo, escapando assim misericordiosamente à crucificação. Outrossim, esse castigo de açoites fazia parte integrante da crucificação romana. Para piorar os sofrimentos do crucificado, não era raro que este apanhasse febre traumática e tétano. E quando se desejava que o crucificado morresse mais depressa, eram quebradas as suas pernas, com golpes de um pesado macete ou com um cacete de avantajado tamanho.

            O próprio nome da cruz estava eivado de opróbrio, vergonha e ignomínia. Cícero escreveu: “O próprio nome (crucificação) deve ser excluído não apenas do corpo, mas também dos pensamentos, dos olhos e dos ouvidos dos cidadãos romanos”. A crucificação era a execução reservada para os criminosos mais vis. Constantino, imperador romano, em cerca de 315 D.C., após a sua conversão ao cristianismo, aboliu essa prática em todo o império.
De conformidade com os costumes romanos, os crucificados não eram baixados da cruz em sobrevindo a morte. Mas eram abandonados a morrer lentamente, e suas carnes eram deixadas às aves de rapina ou aos animais ferozes. Algumas vezes, entre os romanos, os sofrimentos dos executados na cruz eram abreviados acendendo-se uma fogueira por debaixo deles, ou permitindo que leões ou ursos viessem despedaçá-los. No entanto, os judeus não permitiam coisa alguma dessas práticas, sempre que estavam em controle da situação. E também sempre insistiam que os condenados fossem condignamente sepultados.

            O costume de quebrar as pernas aos crucificados na realidade era uma espécie de golpe de misericórdia’, para apressar a morte dos condenados. A prática de varar os crucificados com uma lança também era outra dessas medidas humanitárias.
            Alguns comentadores acreditam que foi na ocasião em que ia ser encravado na cruz que Jesus proferiu aquelas famosas palavras: “Pai perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23.34), as primeiras palavras proferidas por ele na cruz. A tortura da cruz era o castigo mais horrível, desumano e sem misericórdia que os homens já inventaram, e a palavra ‘excruciante’, um termo moderno para indicar uma dor ou tortura muito intensas, se deriva da palavra ‘cruz’. Há algo de terrivelmente apropriado no fato de que o Senhor Jesus, aquele que levou os pecados da humanidade inteira, tenha sofrido o tipo mais desumano de execução que o homem já foi capaz de imaginar; portanto nessa execução vemos a extrema impiedade na qual o homem tem caído, servindo-nos também de lembrete que até mesmo desse mal extremo e ferozmente maligno, Jesus veio a fim de salvar a todos os homens.

            Há um hino evangélico favorito que diz: ‘Abaixo da cruz de Jesus, quero tomar posição...’ por instinto, ficaríamos em qualquer outro lugar, menos ali, pois em nenhum outro lugar encontramos tão decisiva condenação contra a maldade humana. Vemos claramente ali a iniqüidade dos homens. Porém, a própria história do mundo, com todos os seus conflitos de ambições e suas guerras, incluindo as divisões e os conflitos que rugem no seio da própria igreja cristã, são outros tantos testemunhos eloqüentes da impiedade humana. É ao pé da cruz que deparamos com nossa natureza vil e depravada, com nossas propensões, para o pecado, com nossas expressões malignas. E foi no madeiro da cruz que sofreu e morreu a mais pura alma que já esteve à face da terra.

            É por motivos assim que Buttrick diz com referência ao trecho de Mt 27.35, in loc.: ‘Como poderíamos jamais confiar na natureza humana, exceto quando essa natureza se atira nos braços da misericórdia e do poder de Deus?’ Na via dolorosa, o Senhor Jesus lutou sob o peso da cruz. Havia sido açoitado com um chicote cuja extremidade, conforme eram comum, havia sido munida de pequenos pedaços de metal ou osso. Fora espancado quase ao ponto de não mais poder ser reconhecido; e, a caminho do Calvário, avançara com ferimentos abertos, a sangrar continuamente. Foi nessa triste condição física que Jesus foi encravado à cruz. Foi vítima da exposição ao calor e a enxames de moscas, sem falar nos insultos de homens cujas mentes se caracterizavam por um sadismo mórbido. Quando o orgulho humano, tal como o de Caifás, que cobiçava ouro ou posição social, ou como o de Pilatos, que ambicionava o poder no império, se desenvolve plenamente, então crucifica o Cristo de Deus. (Buttrick, comentando sobre a passagem de Mt 27.35).

            É ao pé da cruz de Cristo que devemos tomar posição, porquanto dali flui o sangue de toda vida. O Senhor Jesus quis identificar-se conosco, tendo sofrido, em favor de toda humanidade, a ira que pertence ao pecado e do mesmo procede.

‘...esse espantoso quadro parece estar a mil quilômetros distante daquela situação fácil confortável a que chamamos nosso discipulado. Tanto assim que chegamos a indagar se Cristo pode considerar o que lhe oferecemos como algo digno de receber aquele augusto nome, e se porventura temos vivido daquela maneira que ele espera de nós, de forma sincera e de todo coração...em tal caso, nós também temos de enfrentar uma cruz...para as escrituras, os horrores físicos foram, sem comparação, a porção menos importante da paixão de nosso Salvador. Algo muito mais tremendo do que isso tinha de ser enfrentado; algo que o Apóstolo Paulo procurou pintar para nós em sua frase tenebrosa e tremenda: “Aquele que não conheceu pecado, ele fez pecado por nós..., algo que chega até nós na forma daquele grito plangente: ‘Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?” (Arthur Jonh Gossip, in loc., que também relata a seguinte história:)

            “Um assistente de certa feira se queixou a R. W. Dale, de Birmingham, Inglaterra: - Eu queria pregar sobre ‘Cristo morreu por nossos pecados’ e pensei que se ao menos eu pudesse mostrar como, através da morte de Cristo, se tornou possível para Deus perdoar pecados, talvez muito dos que conheço seriam levados a crer.

            Dale replicou: - Não se preocupe com isso... sobre como foi possível para Deus perdoar pecados; e entre diretamente no fato, dizendo aos ouvintes que Deus realmente perdoa pecados, dizendo-lhes diretamente que Cristo morreu por seus pecados. Essa é a verdade que o povo mais deseja saber, e não a sua teoria, ou a minha, sobre como isso pode ser possível.

            Comentando sobre essa declaração de R. W. Dale, Arthur John Gossip, in loc., diz: “isso expressa uma grande verdade vital, expressa talvez até mesmo a verdade toda”.

            Jesus foi crucificado entre eles os dois ladrões; quiçá para identificá-lo com os piores criminosos. ‘A humanidade estava ali representada: o impecável salvador, o penitente salvo, o impenitente condenado’.

            Platão proferiu referentes ao seu mestre e amigo, Sócrates, as quais o mundo jamais olvidou, e não se há de duvidar que essas palavras se aplicam duplamente bem a nosso Senhor, Jesus Cristo: “Tal...foi a morte de nosso amigo, um homem que dentre todos os homens de seu tempo que pudemos conhecer, chamaríamos de o mais nobre, o mais sábio e o mais justo”.


Fonte de pesquisa:

Novo testamento interpretado versículo por versículo

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